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terça-feira, 4 de novembro de 2014

*Desafio Literário* [MINHA RESENHA] Éramos Seis - Maria José Dupré

Nesta etapa do Desafio Literário 2014, estaremos trazendo um clássico que marcou a infância de muitos e desmarcou a de outros, já que nem todos gostavam de se matar para ler um paradidático apenas para uma provinha.
Éramos Seis foi uma obra que mereceu destaque nas nossas vidas e, particularmente, foi o livro que mais me marcou durante minha pré-adolescência. Por seu conteúdo maduro e moral, além de uma história forte e envolvente, muitos lembrarão para sempre da sofrida vida da família Lemos e das constantes batalhas que uma mãe enfrentava para poder ser a melhor e dar o melhor para seus filhos.



Éramos Seis
Dupré, Maria José
Editora Ática, 2013 (Últ. Edição)



Éramos Seis é uma história dramática e de época, integrante da Coleção Vaga-Lume de livros infanto-juvenis. Lançado, em uma primeira edição, pela Companhia Editora Nacional, a obra foi recebendo várias reedições durante o passar das décadas e nunca deixou de ser esquecida pelos apreciadores de uma excelente leitura nacional. Sua última edição foi responsabilidade da Editora Ática e foi publicada em 2013. A história sofrida e guerreira da família Lemos foi contada pela pela escritora paulista e um dos nomes mais importantes da literatura brasileira, Maria José Dupré que teve em Éramos Seis o ápice da sua carreira, conquistando merecidamente o Prêmio Raul Pompeia da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio José Ermírio de Moraes.
Maria José Dupré teve participação fundamental na construção de um espaço literário brasileiro voltado para o público infantil e adolescente, mas nunca deixando de lado a maturidade e as lições que poderiam ser retiradas de suas histórias. Foi membro diretivo da Sociedade Paulista de Escritores e era uma fiel defensora dos movimentos feministas e na busca das mulheres por destaque na sociedade e por direitos iguais, o que ficou mais do que transparecido na personalidade de D. Lola, a mulher da família Lemos, em Éramos Seis.
Em Éramos Seis, conhecemos a história da família Lemos, uma família de classe média que vive em uma pacata região paulista. Em meio a uma década turbulenta, com o mundo sendo assolado pela devastação pós 1ª Guerra e com o Brasil sofrendo impacto armamentista, principalmente por passar pelas crises políticas da República Veha, as famílias brasileras tentam se reestruturar e se adequar aos costumes impostos pela sociedade. Júlio, o pai da família, sempre buscou na dignidade, na educação e na perseverança, armas para evitar o sufoco e para poder propiciar um presente e um futuro confortável para seus entes próximos, logo era um homem trabalhador e respeitado por todos que o cercavam.
Próximo a ele, encontramos a D. Lola, uma mulher amorosa e dedicada, que sempre foi um exemplo para sua família e para os que a conheciam. Sempre fez tudo o que pôde, dentro de suas limitações, para ter uma vida feliz e tranquila e para que tudo o que é incoveniente, principalmente para uma família de classe média, possa ser contornado. Lola é uma dona de casa e uma excelente cozinheira e, deste modo, ganha seu pão de cada dia, já que cozinha para eventos e para vender aos que conhecem seus deliciosos quitutes.
Com o tempo, as crianças foram aparecendo e crescendo, cada um com um gênio diferente e com um modo de encarar a vida. Julinho era o economista e seus pais já sabiam que, no futuro, ele se tornaria um excelente profissional, pois desde mais novo já tinha a aptidão para dinheiro e a educação financeira necessária para seu futuro. Isabel, a vaidosa, sempre foi uma menina muito inteligente e graciosa, mas sua mente frágil e persuasiva, intensa e impulsiva seria responsável por sérios desvios na garota, o que preocupava profundamente seus familiares.
Alfredo (meu personagem favorito, DIGASSE DE PASSAGE) era o filho rebelde. Desde muito pequeno, nunca foi um rapaz estudioso, mas sempre foi um leitor compulsivo, apesar de tender para temas um poucos suspeitos, como as práticas comunistas. De personalidade fortíssima, de coração fechado e um rapaz de poucas, mas inteligentes, palavras, Alfredo logo se tornou a ovelha negra da família e foi, durante muitos anos, a maior decepção para os pais. Apesar de tudo e do ódio que sentia por seu pai, era extremamente afetuoso com a mãe e nunca deixou de amá-la, só era um rapaz desviado e que não acreditava nos ideais da época. Um aventureiro que acreditava que o mundo era muito grande e que ele tinha todo o potencial para mudá-lo.
Por fim, temos o menino prodígio Carlos. Carlos era o maior orgulho de seus pais e, durante uma fase de sua vida, Lola acreditava que era o único filho digno de seu amor. O filho mais velho dos Lemos sempre foi o melhor aluno de sua escola e altamente elogiado por todos, quase um super dotado. Esforçado, carinhoso, trabalhador e muito próximo aos pais, foi o filho que o casal Lemos sempre esperou. Não se dava bem nem com Alfredo e nem com Isabel, pois não concordava com as práticas erradas e com os desgostos que davam a seus pais. Carlos era um moralista e defendia o bem, a paz e os atos corretos.
Deste modo, a família Lemos se estruturava. Como toda família, existiam inúmeros conflitos, principalmente por conta das personalidades tão diferentes entre os filhos e da consequente intolerância por parte do pai. D. Lola, passiva, sempre foi a que mais sofria com os problemas e não tinha colhões o suficiente para ter alguma autoridade contra o rápido crescimento de seus filhos. Abençoada pela sensibilidade e presença de seu filho Carlos, via nele a maior arma contra as tragédias e encontrou, no filho, o seu melhor amigo.
Assim, o contexto é traçado e a história trata, basicamente, da luta de D. Lola para manter sua família unida e amada. Com o passar dos anos, com a chegada da velhice e com as idas e vindas constantes da vida, D. Lola não consegue suportar as perdas e a solidão, não consegue suportar ver seus filhos crescendo e criando responsabilidades e pesos. Ela teme por eles e vê a dificuldade e o sofrimento que existe no mundo, não desejando essas coisas para seus filhos.
Em meio a um contexto histórico cruel e sensível, às brigas de classes, aos costumes e às desavenças, Maria José Dupré criou um enredo capaz de sensibilizar a todos. Um enredo memorável, apesar de bastante triste, mas que, por conta de sua proximidade com a realidade, nos afeta profundamente.
Éramos Seis, nunca deixará de ser uma obra atual. Uma história intensa e profunda, altamente reflexiva e que nos faz meditar sobre a efemeridade do tempo, sobre os impactos de nossas escolhas e sobre as únicas pessoas que estarão ao nosso lado em todas as dificuldades e alegrias, até o momento de nossa morte: os pais.
Um livro lindíssimo e mais do que recomendado. Leitura obrigatória para todas as idades. Com um conteúdo de primeira e com uma escrita muito simples, acredito que Éramos Seis seja uma das obras literárias mais importantes da literatura brasileira.


2 comentários:

  1. Sou apaixonada por este livro, emprestei o meu e acabou se perdendo :(
    É uma das histórias mais realistas e atuais, as situações dos personagens é tão parecida com o nosso cotidiano. Ótima resenha!

    Abraços
    Jéssica Rodrigues
    http://lilianejessica.blogspot.com.br/

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  2. Um livro muito apaixonante e real mesmo. Nos identificamos muito facilmente com as histórias e nos sensibilizamos com o drama da família. Me senti integrante da família Lemos várias vezes...
    Obrigado pelo elogio!

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