Boulle, Pierre
Editora Pocket Ouro, 2008
O Planeta dos Macacos foi escrito e publicado em 1963 pelo escritor, aventureiro e desbravador francês, Pierre Boulle (um dos caras com a vida mais louca que já pude conhecer). A obra distópica foi publicada no Brasil neste mesmo ano pela editora Unibolso e, 45 anos depois, foi relançada em uma edição contemporânea pela renomada Pocket Ouro, responsável por trazer os clássicos de forma readaptadas. O livro logo seria adaptado para o cinema e se transformaria em um dos maiores lançamentos de ficção científica da história, sendo recontada e reinventada até os dias atuais, como recentemente sofreu nas mãos do diretor Rupert Wyatt, que transformou o universo dos símios em uma algo bastante dramático, forte e chocante, com um filme bastante aclamado (principalmente pela participação de quem, futuramente, se tornaria o líder dos macacos: César) e que tornou-se um sucesso de crítica, além de receber indicação para o Oscar de Melhores Efeitos Especiais. Atualmente em sua 11ª adaptação aos cinemas, a história de um planeta ao inverso, dominado por macacos, logo seria uma das ficções mais consagradas do cinema, perdendo, talvez, apenas para Alien e Star Wars, e promete ficar sempre na lembrança de todas as gerações.
Apesar das notáveis modificações sofridas por conta das inúmeras adaptações, a obra de Pierre Boulle ainda é considerada bem original e diferente, se destacando em meio a tantos clichês, histórias jovens e comuns, além de ser um clássico da literatura internacional.
Decididos a investigar o espaço e desbravar os mistérios identificados a anos-luz da Terra, nas proximidades do sol vermelho de Betelgeuse, onde acreditam que possa haver resquícios ou possibilidades de vida, um grupo terrestre embarca em uma jornada longa, com durabilidade de 2 anos, para além de seu planeta, a fim de encontrar respostas e de trazer notícias surpreendentes para a sociedade humana.
O grupo é formado pelo renomado e internacionalmente reconhecido, professor Antelle, que dirige a aventura e, para isso, desenvolveu uma espaçonave capaz de viajar paralelamente à velocidade da luz. Completando o trio de desbravadores, conhecemos o jovem médico Levain, responsável por dar suporte à pequena tripulação em sua jornada e para as surpresas que puderem se deparar mais na frente. Por fim, temos o protagonista, o jovem e vigoroso jornalista Ulysse Mérou que, a princípio, não deseja fazer essa viagem apenas para fazer um furo jornalístico, mas acaba cedendo por reconhecer a importância que tudo possa ter para o futuro e para o destino da humanidade.
Assim, acabam descobrindo, ao chegar no sistema solar de Betelgeuse, um planeta com uma morfologia muito similar a da Terra e, deste modo, pousam e iniciam suas pesquisas para identificar o que faria parte daquele local tão misterioso. Batizado de Soror (irmã), o planeta logo se mostra com plenas situações de vida e, inicialmente, não mostra ser risco para nenhum dos membros da tripulação. De repente, os três são abordados por um grupo de seres idênticos aos humanos, mas com hábitos primitivos e sem um menor nível racional como tinham os humanos da Terra. Achando tudo muito estranho, Levain, Antelle e Mérou decidem ir à fundo investigar o que tem de anormal com aqueles habitantes e, depois de um certo tempo, percebem que o planeta Soror funciona como um inverso da Terra: os humanos são selvagens e experimentais, enquanto os macacos são os racionais e dominantes em toda a extensão do local.
Logo, os três acabam se metendo em uma emboscada para serem capturados como prisioneiros e levados para o mercado negro de humanos. Com isso, Mérou, em plena consciência, diferentemente de seus companheiros, busca se destacar em meio à tanta selvageria e mostrar que é um humano pensante e racional e que não deveria estar preso, mas sim ajudando os macacos a entender o comportamento dos terrestres. Logo, Mérou começa a entender como funciona a hierarquia, o poder e o governo dos símios e percebe que, em Soror, houve uma perda da humanidade e uma inversão de valores sociais e políticos, já que os humanos passaram a ser os selvagens e os macacos passaram a ser a classe dominante.
Pierre Boulle, através de uma profunda crítica social, buscou apresentar, inicialmente, um contexto hipotético e ficcional sobre a selvageria humana. Apesar do teor científico do livro, o autor pouco se preocupa em dar explicações sobre teses e pesquisas, focando apenas no social e na troca natural entre os humanos e macacos. O livro traz uma intensa abordagem crítica e de "desumanização" de uma sociedade, apesar de ser uma ficção científica. Através disso, é apresentada uma hierarquia social formada apenas por três castas: a dos orangotangos, chimpanzés e gorilas, que estabelecem funções similares às funções de tomadas de decisão das sociedades humanas, tais como a política, a ciência, a literatura e as artes. Aprofundando nas castas, símios se vestem como humanos na Terra, com trajes de passeio completo e à vontade, além de ocupar posições funções específicas nas comunidades.
Quanto aos humanos, são hostis. Não têm língua própria e apenas emitem sons sem sentido, como selvagens. São tratados por repulsa pelos macacos e, se não são comercializados para servirem como escravos, são experimentos de laboratório para melhor compreensão entre as raças.
Uma sociedade inversa é apresentada. Macacos com reações e emoções humanas; humanos desprovidos de senso e de sentimento, incapazes de sentir algo além do medo, da fragilidade e da inferioridade em comparação aos seres dominantes.
Uma nova estratificação é apresentada e, através de uma metáfora de uma humanidade em risco, de uma humanidade cruel, inconsequente e, até mesmo, irracional, que está destruindo seu próprio planeta e que julga os seres vivos como descartáveis, uma nova perspectiva é gerada e, a partir disso, uma nova reflexão acerca de nosso real papel social entre nós mesmos e entre os seres que habitam a natureza e que compõem o ecossistema natural, além de contribuírem para o equilíbrio da vida na Terra.
A ênfase na falta de comunicação entre os humanos e macacos é um foco constante na obra, caracterizando a falta de percepção que temos para com os sentimentos dos outros animais e para com a natureza... Até mesmo um certo desinteresse, como se a natureza fosse algo descartável, infinito e constantemente renovável, o que nos faz esquecer que os recursos naturais (seres bióticos e abióticos) tendem a se extinguir e que, num futuro próximo, pode ser tarde demais para corrigirmos nossos maus tratos.
Com uma linguagem simples e objetiva, Pierre cria um cenário direto e, apesar de ficcional, cheio de links com a realidade contemporânea. O Planeta dos Macacos estabelece um paralelo com seres, biologicamente, bem próximos aos Homo sapiens e, deste modo, busca tornar as relações entre eles as mais próximas com o nosso cotidiano e com os nossos hábitos.
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