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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

[MINHA RESENHA] Espíritos de Gelo - Raphael Draccon

Espíritos de Gelo
Draccon, Raphael
Editora Leya, 2013



Espíritos de Gelo é um livro adulto que se assemelha com um thriller, escrito pelo brasileiro Raphael Draccon, um dos maiores escritores nacionais de títulos jovens e fantásticos da atualidade. A obra foi publicada, incialmente, em Portugal, pela GaiLivros, em 2011, e chegou ao Brasil publicado e distribuído pela editora Leya, no mesmo ano, em uma primeira edição.
Em Espíritos de Gelo, Raphael Draccon decidiu fugir de todo o universo fantasioso e inocente que trouxe na renomada e popular saga Dragões do Éter (que, praticamente, fez seu nome) e traz um universo sujo, vulgar e escuro, não sendo indicado para menores e para o público mais jovem.
Em um livro curto e com capítulos mais curtos ainda, a obra parece mais uma tentativa do autor para ver se ele tem o dom ou a opção de experimentar novas vertentes e temáticas, como fez J.K.Rowling após pular da fantasia de Harry Potter para o drama real em Morte Súbita. Já adiantando um pouco da minha opinião: se eu fosse Draccon, não largaria a fantasia e assumiria de vez que seu talento, pelo menos após a leitura de Espíritos de Gelo, deveria se restringir ao público jovem, que já o admira por tudo que ele trouxe.
A história, em Espíritos de Gelo, já começa tensa, com um protagonista sem identificação sendo torturado cruelmente por um homem esquisito com uma camisa do Black Sabbath, juntamente a dois capangas que mais parecem sadomasoquistas. Atrás de respostas sobre algo que o torturado não consegue recordar, os brutamontes usam dos mais diversos artifícios e instrumentos para fazer com que o desesperado jovem lembre de tudo que realmente o trouxe até ali. Tudo que o rapaz lembra é que amanheceu, certo dia, em uma banheira cheia de água, mas o que importa aos agressores é o motivo de tudo isso, o que eles tentarão arrancar a todo custo.
O personagem principal, com o tempo, começa a ficar desesperado, sem entender o que fez para que tudo aquilo estivesse ocorrendo. Porém, através de interrogatórios, sofrimento e muita dor, ele vai recordando, aos poucos, toda sua vida antes disso e, com a ajuda do torturador (que aparenta saber demais), vai construindo o cenário e juntando as peças para montar o quebra-cabeça que o esquisitão de camisa do Black Sabbath tanto deseja. Deste modo, a vida do pobre rapaz vai sendo traçada e seu passado escuro e deprimente começa a vir à tona e a atormentá-lo novamente.
Vindo de uma família quebrada, com uma mãe ausente e separada de seu controverso pai, o protagonista teve uma vida difícil, mas não miserável. Seu pai era um grande empreendedor e estava metido em negócios do mercado negro, mais especificamente a parte de casas noturnas e prazeres sexuais. Deste modo, o rapaz teve uma adolescência muito precoce, já que, desde muito cedo, era jurado de herdar o império do pai. Filho único, logo via no velho sua base e sua escola, tudo que precisaria aprender para continuar a vida. Seu pai era tudo. Até que, fatalmente, foi assolado por uma tragédia e, jovem, sofreu a perda do pai. 
Sem chão, sem forças e sem motivos para continuar a vida, além de não ter condições e nem o paranauê suficiente para comandar os negócios do pai, acaba perdendo tudo e decide, de uma hora para outra, cometer suicídio. Em sua tentativa, logo é surpreendido por uma jovem moça chamada Mariana, que o impede de tirar sua vida e logo torna-se seu grande amor. O que ele, infelizmente, ainda não sabia, é que a jovem tinha hábitos sexuais estranhos e ligados a uma fraternidade quase religiosa, que via o sexo como uma atividade divina, e isso o levaria à perdição e à consequências que mudariam, para sempre e de forma definitiva, o rumo de sua vida e que, no final, tudo estaria relacionado: sua vida passada e seu presente junto aos torturadores.
Espíritos de Gelo é um livro que tem de tudo para ser legal. Mas, infelizmente, não é. Começando pelo personagem principal, ele é extremamente chato, covarde e sem nenhum carisma. Tudo isso já começa pelo simples fato de ele não ter um nome e de isso não significar po*** nenhuma na obra. Por que não deram um maldito nome para o homem?!? É um personagem fraco, sem nenhum poder de decisão e que mais parece ter a personalidade de Jim Carrey em Sim, Senhor. Ele, simplesmente, aceita tudo sem questionar.
Cansado de ler livros adultos e que são cheios de orgias sexuais sem sentido? Pois fique longe desse. A tal fraternidade é muito escrota, o líder é o tempo todo viajando legal na oratória, e, quando imaginamos, tudo ali parece ser absurdo! Uma sociedade de gente rica, que se viciou em fazer sexo com desconhecidos e que encara isso como um culto ou como uma forma de se comunicar com espíritos superiores. WTF?? A tal da Mariana é a pior dali, a mais sonsa e que encara tudo numa normalidade tão estranha que, o que era pra ser realidade, torna-se extremamente impossível. E o pior é que, pensando mais um pouco, acho que realmente deve existir uma galera assim no mundo. Sei lá... Não sei porque, mas lembrou um dos piores livros que já vi em minha vida: Juliette Society, da rainha do Xvídeos, Sasha Grey. Foi mal, Sasha, você é gostosa e tal, mas seu livro é uma bo***.
Infelizmente, as coisas ruins não acabam por aí. Os diálogos entre os espancadores e o protagonista são muito ridículos e não se encaixam em nada! Parecem coisas aleatórias de um brainstorm sem sentido que Draccon teve. Do nada, pulam de um assunto para o outro e agem com uma naturalidade de quem está em uma calçada de alguma ruazinha de uma cidade italiana tomando chá. Sobre a narrativa, acho que é o que mais se salva. É uma história bem contada, apesar de fragmentada. Tudo da história principal realmente se explica, menos o vício de Draccon em colocar textos assim:

E dormiu.
Acordou.
Comeu.
Acordou assustado.
Muito mesmo.
Muito. 
E.
X.

Nunca vou entender esses vícios de autores contemporâneos em construir textos desse modo... Mas enfim. Cada um escreve e organiza como acha mais adequado. Infelizmente, nunca irá agradar a todos.
Espíritos de Gelo passa longe de ser um bom livro ou de ser um livro memorável. Recomendo para fãs do autor ou para quem tem interesse em ler livros com menos de 150 páginas. Mas sei lá, não me prendeu e, assim que terminei, já tive de começar outro.




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