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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

[MINHA RESENHA] Morte Súbita - J.K.Rowling

Morte Súbita
Rowling, J.K.
Editora Nova Fronteira, 2012




Morte Súbita é uma obra adulta dramático-realista, a primeira do gênero escrita pela autora do bruxo mais famoso de todos os tempos (depois do Gandalf, Saruman e Radagast), Joanne Rowling. Foi lançada no Brasil no mesmo ano em que foi publicada mundialmente, sendo distribuída, em nossas terras, pela Nova Fronteira, que assumiu, oficialmente, os direitos brasileiros da obra. 
O livro da autora de Harry Potter, como já era esperado principalmente por conta de seu sucesso principal entre todos os públicos em todo o mundo, explodiu e, na primeira semana de venda, já tinha milhões de tiragens circulando. Muita expectativa caiu em cima deste livro e muita gente esperava algo tão bom quando a saga de Hogwarts mas, infelizmente, a autora teve o azar de desenvolver fãs fanáticos e de cabeças fechadas, que parece que não entenderam o fato de J.K.Rowling poder escrever outras coisas que não sejam sobre Harry Potter. Acredito que, a partir daí, começou um movimento de intolerância literária, ou alcançou seu ápice, não sei, mas uma mentalidade fraquíssima foi desenvolvida nos leitores jovens atuais e, por conta da temática polêmica, realista e forte de Morte Súbita, a obra foi bastante rejeitada pelo público.
No final darei minha opinião sobre Morte Súbita agora, mas já vou logo adiantando que foi a partir dessa (des)construção mental dos jovens leitores que comecei a odiar Harry Potter e todo o vício e doença que a saga espalhou, como os modismos, a intolerância e o desenvolvimento de mentes fracas, ignorantes e sem tendências para expansão. E não sou hipócrita. Tenho o direito de gostar ou não de algo e tenho o direito de indicar o que acho correto ou não. Sou aberto à críticas e já devo esperar de alguns leitores, mas enfim.
Pagford era uma cidade tranquila, distante de centros caóticos, com moradores simpáticos e conhecidos entre si. Cada um com seus problemas, suas vidas, mas a cidade funcionava em um perfeito conjunto e era motivo de orgulho para boa parte dos poucos habitantes. Porém, a pacata cidadezinha interiorana logo acaba sofrendo uma tragédia que seria responsável por consequências inesperadas e irreparáveis: a morte do professor e Conselheiro Barry Fairbrother.
Com sua morte, uma vaga no alto Conselho de Pagford é dada como aberta e, deste modo, este fato torna-se o principal alicerce que despertará as ambições, os medos, a coragem e a ética de alguns habitantes que entrarão nessa disputa para ocupar a vaga que deveria ser do falecido Sr. Fairbrother. Como se já não bastasse a simples disputa e o fato de cada concorrente almejar o cargo mais alto da cidade (fora o presidente do Conselho, Howard Mollison), o passado e os segredos dos cidadãos passam a atormentá-los, à medida que todos em Pagford já se conhecem e que uns se voltarão contra outros de jeitos mais sujos, covardes e desonestos possíveis a fim de alcançar o cargo na Câmara Distrital.
Morte Súbita é uma obra bastante complexa e cheia, mas cheia de histórias. Lotada de personagens até o talo, cada um é responsável pela construção do cenário político e social no distrito após a morte de Barry Fairbrother. Enquanto uns lutam veemente pelo cargo no Conselho, outros simplesmente deixam essa disputa "boba" para trás mas, mesmo assim, buscam, no conflito existente, oportunidades para arquitetar tramas contra os próprios concidadãos, desenvolvendo uma verdadeira bola de neve.
Pagford acaba se destacando como o personagem principal do livro, já que torna-se agente ativo, pois tudo passa-se em suas terras e metros quadrados, e agente passivo, pois é o distrito que acaba sofrendo os danos causados pela falta de moral dos seus próprios habitantes. Subliminarmente, a atividade de Pagford se torna mais forte à medida que torna-se uma doença, uma ambição e um troféu para os mais fanáticos habitantes de longa data, que veem a cidade como um paraíso e como um objeto de disputa. O distrito vira uma verdadeira rede de mentiras, enganações e traições, onde todas as armas são válidas e que valerá a Teoria da Seleção Natural de Darwin, a sobrevivência dos mais aptos.
Sua temática adulta (adulta mesmo, nada de Harry Potter) torna-se cada vez mais evidente com o passar das páginas, focando no uso de drogas pelos adolescentes e como a morte do querido professor Barry Fairbrother impactou em relação ao comportamento de seus ex-alunos. Além disso, as drogas acabam, obviamente, sendo acompanhadas pelas práticas e desejos sexuais, principalmente nos adolescentes, fatos que caracteriza o realismo e a contemporaneidade da obra de J.K.Rowling.
Relacionamentos familiares em todo o organograma (pais x filhos, maridos x esposas... parentes e enteados em geral) são decisivos para o desenrolar de quase todos os conflitos que ocorrem no livro. Pais desatenciosos, filhos mal educados e sem nenhuma base, questões de subúrbio x centro, tudo, mas tudo mesmo é importante na história e cada detalhe exposto traz suas graves consequências.
Palavrões, cidadãos sujos e sem caráter, uma cidade desgastada pela destruição de um equilíbrio e de uma harmonia... Tudo isso escrito com bastante simplicidade e objetividade, como poucos autores conseguem fazer hoje em dia. Sem clichês, sem previsibilidades, sem frases prontas e sacais (como vemos em metade da literatura internacional atual), Morte Súbita é, sem sombras de dúvidas, um livro diferenciado.
Em Morte Súbita, para quem ler, será evidente que, nas 500 e poucas páginas, 99% das coisas que acontecem são ruins, 0,5% são neutras e 0,5% são felizes. Deste modo, J.K.Rowling escreveu um verdadeiro ensaio sobre a realidade e sobre a natureza humana, quando se encontra em situações de disputa de poder ou em situações nas quais não existe uma base ou referência (que, no caso, era o Sr. Fairbrother). Mostra como é frágil a vida e a mentalidade humana, como é complicado o convívio harmônico em sociedade, como as famílias e casais tendem a se desgastar e a se destruir...
J.K.Rowling, através de uma obra extremamente negativa e pessimista, relatou, com perfeição, os principais conflitos internos e externos da natureza humana, através de fatos reais e cotidianos, através de pessoas que poderiam ser seu amigo, namorado, mãe, irmã. Fatos cotidianos que poderiam acontecer em sua casa, em seu bairro, em sua cidade. Nunca vou entender as críticas negativas exageradas em relação a Morte Súbita. J.K.Rowling não deveria, com sua bela capacidade de escrita, se limitar a Harry Potter e ao público adolescente. Se você é fã de Harry Potter, deveria ficar era feliz com esta obra adulta da autora, pois soube se desvincular com maestria de uma saga que já tinha terminado e provou, para o mundo inteiro, que é capaz de escrever algo para TODOS e que fuja da fantasia, que esteja mais próximo de mim e de você.


Um comentário:

  1. Li Morte Súbita e não entendi o ódio todo pelo livro. Claro, concordo que todos têm o direito de gostar ou odiar, e até eu senti um pouco de preguiça nas partes mais lentas, mas nada que AQUELE FINAL não supere.

    Abraço!
    http://blogmaislivros.blogspot.com.br/

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